Um Ano Sabático – Amsterdã e Londres, tudo em família parte XI

Eu estava sentada em um café na stazione de Nápoles quando consegui um vôo low coast de última hora para Amsterdã. Ainda questionava a mim mesma o por quê de não continuar a viagem pela Itália, conhecer novos lugares, aproveitar o verão europeu, viver novas aventuras. Eu estava feliz da vida, com a saúde recuperada, me sentindo livre, mas por outro lado, me sentia exausta. Sentia falta da quietude mas não exatamente de ficar sozinha. Queria estar com pessoas. Com pessoas com quem eu pudesse ter longas conversas, me divertir… E por que não um aconchego ou um “colo” para compartilhar meus pensamentos naquele momento? E eu tinha isso nas mãos – duas possibilidades de estar com pessoas que não só me ofereciam esse conchego, como também gostariam que estar comigo. Minha volta para o Brasil estava marcada por Roma. Eu teria que rever toda a logística… E tudo por conta de sentimentos e emoções?! Sim!!!! E assim foi.

O espírito e a alegria napolitanos me acompanharam até o aeroporto de Amsterdã. Como era uma sexta-feira (evite viajar nos fins de semana, eu lembrava a mim mesma) os napolitanos também queriam se divertir e estavam saindo da cidade. Dessa forma, o avião seguiu loootado de jovens napolitanos com muita energia e testosterona. Foi o trecho de viagem mais hilário (e barulhento) que já fiz em toda minha vida.

Quando cheguei, as queridas Arlete e Stephanie me aguardavam no aeroporto. E embora eu pudesse ter ido até elas, de trem ou mesmo de táxi, confesso que fiquei muito feliz de vê-las ali. Alguém esperando por mim! Que alegria! Finalmente poderia conversar mais que 15 minutos no meu idioma! Mesmo tendo a companhia de alguns amigos e da minha sobrinha durante trechos da viagem, sempre chegava a hora que alguém partia, e eu ficava… E finalmente estaria em uma casa, sem check in e nem check out.

Distante cerca de 30 minutos de Amsterdã,  a casa da Arlete, com sua própria naturalidade, parece que está sempre pronta para fotos: cheia de surpresinhas, cantos especiais, mimos, detalhes únicos. É como se cada cantinho tivesse sua própria personalidade ou contasse uma história diferente. O quarto que eu chamaria de “meu” nos próximos dias, estava  arrumado de forma que mais parecia um “ninho” e a vista da janela mais parecia a pintura de um quadro.

Logo saí para um passeio de bike nas proximidades aproveitando os poucos raios de Sol daquela tarde tranquila. Sentir o vento no rosto, o aroma das flores… e o silêncio. Eu definitivamente precisava daquilo.

Mais tarde, sabendo que eu estava saudosa do Brasil, essa família querida, comprou ingressos para assistirmos ao show de um grupo brasileiro muito bacana, e que eu não conhecia, o Sertanilia. Eles se apresentaram no maior espaço de shows e eventos de Amsterdã, o Bimhuis, que tem uma arquitetura incrível.

Amsterdã é linda. Não tem como não gostar. Para nós brasileiros, ou aos olhos de um turista, mesmo estando com alguém que nasceu e mora lá, é como passear num mundo que mais parece um reino encantado contemporâneo. Tudo certinho, tudo funciona, tudo bonito. As pessoas são gentis. A cidade tem uma elegância  descontraída. Mas, o que eu mais gostei foi de como me movimentei lá: saímos de casa de bike (na casa já tem bike extra para visitas), deixamos nossas bikes na estação de trem e em 15 minutos estávamos no centro de Amsterdã. Um jeito tranquilo, saudável e sustentável de se locomover!

Percorremos Amsterdã a pé e fui apresentada aos lugares escondidinhos, preferidos pela Stephanie e fora dos roteiros turísticos. Dei folga para minha câmera, e para mim, para poder curtir mais não só o passeio mas também a companhia da minha anfitriã. Vez ou outra parávamos para waffles, bagels, cappuccinos e cafés  – cafés, e não coffee shops (risos). Estes últimos, não tive vontade ou curiosidade de entrar… embora tenha dado uma espiada.

O clima fresco, o silêncio da cidade e da casa, as conversas sobre a viagem, me ajudaram a “ordenar” algumas ideias e pensamentos, como também, a colocar o sono em dia. Dormi profundamente como não dormia há tempos. Acordei no dia seguinte com um dia ensolarado. Um prêmio se tratando de Amsterdã. Saí para passear com a Arlete seguindo o lifestyle holandês  – de bike, de trem, a pé e de tram (bonde). E como estava um dia lindo aproveitamos para ver Amsterdã de outro ângulo: pelos canais! Afinal, uma cidade que está abaixo do nível do mar e utiliza amplamente a navegação como forma de transporte, de lazer, de moradia, para promover pequenos eventos ou festas (como uma despedida de solteira que passou por nós) conhecê-la a partir de um barco é um passeio deliciosamente “obrigatório”.

Não tinha tempo de visitar muitos lugares, mas o Museu Van Gogh estava na lista. Por sorte, estava aberto e recém reformado. E o que mais amei no museu?! Foi o modo como eles explicam, contam a história do trabalho artístico e dos estudos do mestre das cores – de forma leve, didática, promovendo a interatividade das pessoas com a arte. Imperdível, para adultos e crianças.

Adorei as lojinhas descoladas que visitei com a Stephanie – de moda, design, alimentos – onde o luxo, o que é bacana, é você produzir e comprar produtos feitos à mão, por artesãos, artistas e empresas locais. São peças exclusivas e diferenciadas, nada em série e tudo sustentável. E não apenas com uma etiqueta de sustentável. Não, não fotografei, e as pessoas lá pareciam se sentir mais à vontade de falar sobre isso, se a câmera fotográfica ou telefone estivessem na bolsa.

O ponto alto da minha estadia em Amsterdã?! Na minha última noite lá, saímos para jantar em um restaurante tailândes. De bike. Fomos e voltamos pedalando entre as ruas, ora conversando, ora em silêncio apenas curtindo aquele fim de dia… era julho e o pôr-do-sol acontecia por volta das 22h00!

Passei dias doces e tranquilos em Amsterdã, regados a vinho, lanches, jantares deliciosos, e principalmente, na companhia de pessoas queridas e especiais. Fui então me dando conta, e realizando, como foi bom eu abrir esse “espaço” para receber aquele aconchego. Agora se tratava de absorver tudo que havia acontecido e acontecia ainda dentro de mim.

Cheguei em Londres, meu segundo lar como gosto de dizer (e acreditar, risos), em um dia com céu azul! Outro prêmio! Estava ansiosa para curtir as minhas sobrinhas de coração e consideração.

Era a primeira vez da Natália em Londres. Além disso, a Camila tinha sido aprovada na King’s College. Eu não poderia perder a oportunidade de estar com elas já que estava tão perto. Mais uma vez agradeci por ter tomado esse rumo. Foi uma farra! Tomávamos café da manhã juntas, trocávamos roupas, acessórios, elas subiam para o meu quarto ou eu descia para o delas e ficávamos as três deitadas em uma cama conversando ou só navegando na internet… sem contar as disputas de quem usaria o banheiro primeiro, ou quem não iria lavar a louça… Meninas!!!!

Londres sempre convida a vivenciar a arte. Não consigo resistir e sempre vou em alguma exposição. Não tinha tempo, mas aproveitei para visitar a de Pompeia e Herculano no British Museum. E ainda dei sorte de ver um acervo novinho sobre a publicidade da Ásia. Perguntei a mim mesma nesse dia por que não consigo disponibilizar mais tempo em São Paulo para visitar exposições de arte?

Estava indo tudo muito bem até eu ter que remarcar e trocar meu vôo de Roma/Paris/São Paulo para Londres/São Paulo com alguma possível conexão. Poderia ser algo simples, mas a empresa a qual eu comprei minha passagem numa promoção da madrugada (uma famosa empresa brasileira), não sabia como proceder – era a empresa que vendeu a passagem que deveria resolver ou a companhia aérea??!! Faltavam 72 horas para o meu vôo. Eu nem pensava em ir para Roma. Depois de algumas horas perdidas no skype e em telefonemas, sem solução, decidi entrar em contato diretamente com a companhia aérea utilizando uma ferramenta que não usava há tempos, o Twitter! E surprise! Em menos de 24 horas eles resolveram tudo, conseguiram um vôo ótimo e eu teria que pagar uma diferença mínima. Era só aguardar o novo e-ticket, que chegou um pouco antes da madrugada do dia anterior do meu vôo. Foi então que eu notei algo estranho. Quando confirmei o trecho, os aeroportos estavam descritos com suas respectivas siglas… Na pressa, no sono, não sei, li Heathrow mas era Malpensa, em Milão!!!!! Um erro de comunicação da minha parte e da companhia aérea. Não aguentei e caí no choro. Eu só queria voltar para casa. Estava ótimo em Londres, eu estava em divertindo, mas… queria minha casa. Estava saudosa da minha cama, do meu travesseiro, das minhas plantas. Das coisas mais básicas, como por exemplo, assistir um filme no meu sofá e comer arroz, feijão e ovo. Brava gente essa que deixa o seu conforto para passar alguns meses ou anos fora do seu país.

Passado o mimimi, respondi ao Twitter da companhia aérea, expliquei a situação com um pedido de desculpas. Faltava pouco mais de 24 horas para eu embarcar. Foi uma longa madrugada. De verdade, não era lá um grande problema. O máximo que poderia acontecer era eu gastar um dinheiro a mais do que gostaria para voltar num vôo que me atendesse. Só estava cansada de fazer e refazer logísticas. Em  poucas horas a competente companhia aérea resolveu tudo. E pelo Twitter! Não me cobrou uma libra ou dólar a mais por isso. Meu vôo sairia de Londres, faria uma conexão muito rápida em Paris, e finalmente, Sampa! Fiquei impressionada com a agilidade e bom atendimento deles. Não menciono aqui no post, mas depois se alguém quiser saber, eu conto nos comentários.

Assim, na madrugada do dia seguinte, quase 2 meses depois, eu deixava o velho Continente e voltava para o meu lar.

Escrevi e reescrevi esse post várias vezes. Sendo sincera com vocês, me parecia meio morno. Não tinha muitas aventuras para contar ou muitas novidades, ou lugares incríveis. Depois revendo as fotos, encaixando-as no contexto, entendi e ele fluiu. Há mais de nós mesmos nas coisas e gestos mais simples. Há “muita aventura” naquilo que menos esperamos. Nas emoções e sentimentos que promovem aquela sensação boa chamada felicidade que eu senti, estando lá em Amsterdã e Londres, em casa, em família.

A Stephanie desenhou para mim depois que deixei Amsterdã. Depois de longas conversas, essa é a “leitura” que ela fez sobre a minha viagem… As asinhas, remetem à capa do meu celular (Quem lembra? Eu comprei em Milão) e simboliza que agora estou e me sinto livre para o mundo, as viagens que fiz e farei pelo mundo, e meu re-nascimento, inspirado pela Itália 🙂