Cabeça de trinta

Por Paola Siviero

Lembro-me bem de querer que o tempo passasse rápido quando criança. Para que o fim de semana chegasse, ou as férias, ou mesmo o horário daquele programa de TV favorito. E essa pressa de viver acentuou-se ainda mais quando estava prestes a fazer dezoito anos, com tantas promessas de liberdade representadas por coisas como carteira de motorista, morar fora de casa e festas de faculdade.

Não sei o momento exato em que isso mudou. Só sei que hoje vejo os anos passarem num piscar de olhos, e contradizendo a adolescente, me pego desejando que as horas passem devagar. Fico tentando segurar o tempo com as mãos, tentando ignorar os próximos aniversários, mas ele escorre entre os dedos cada vez mais rápido, rindo do meu esforço.

Parei de olhar para o futuro com aquele olhar guloso, e passei a me deliciar mais com as memórias daqueles momentos inesquecíveis. Percebi que os sonhos são etéreos e movem-nos para a frente, mas não são mais importantes que o passado sólido e satisfatório das nossas realizações – que são de fato o que reflete nosso presente.

Entendi que a maioria dos meus planos cuidadosamente calculados não vão se desenrolar da maneira como imaginei. Que as condições de temperatura e pressão ideais da minha mente em nada representam o caos da realidade, e que essa história de desconsiderar o atrito só acontece em problemas fictícios de física.  E a cada dia me frustro menos ao ver uma nova curva na estrada da vida, e sofro menos quando as linhas retas que desenhei são despedaçadas pelo acaso. Mais que isso, hoje aceito que o que minha cabeça de vinte planejou, a minha de trinta não quer mais.

Já sei que a opinião alheia não deveria ser guia, mas essa faca ainda me fere. Continuo tentando agradar gregos e troianos, mas vejo no horizonte que terei que tomar partido nessa guerra mais cedo ou mais tarde. E quem sabe nesse dia, passarei a agradar a mim mesma.

Todas essas revelações não são consequência do simples e inevitável processo biológico de envelhecer, e sim da experiência individual e opcional de como viver. É tão óbvio, e por isso tão difícil de enxergar: o único desejo do ser humano é ser feliz. Todos os outros desejos derivam-se desse, e a partir do que acreditamos que nos fará felizes, fazemos a programação do GPS. Cada tropeço e cada salto, cada vitória e cada derrota, cada sorriso e cada lágrima – cada lição – contam, e a partir deles se recalcula a rota pessoal e intransferível para a felicidade.

Há uma lição em particular que demorei trinta anos para aprender, mas depois que a vida a esfregou várias vezes na minha cara, espero não mais esquecer: Há sempre alguém no caminho entre você e a felicidade. E esse alguém na maioria da vezes é você.

Confira meu outro post para o ACHADOS, sobre “como ser um expatriado feliz e realizado”. Espero que curta!

3 comentários COMENTE TAMBÉM

Adorei seu texto, alias adoreis os dois textos!! Vá em frente no seu projeto de escritora porque tens bastante talento!!

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