Herbívora: uma conversa sobre horta urbana, culinária e veganismo

 Alessandra Nahra nasceu em Porto Alegre, cresceu em Santa Catarina, fez faculdade de jornalismo e vive atualmente em São Paulo. Recentemente, criou a Herbívora, uma plataforma de conteúdo sobre hortas, culinária vegetariana e estilo de vida vegano, incluindo proteção animal. O projeto tem como desdobramento a Casa Herbívora, onde acontecem encontros sobre os temas relacionados.
Conversamos com a criadora do Herbívora sobre sua vida cercada de bichos e plantas:
Que dicas você daria para quem está começando no veganismo?
Não queira achar substitutos para comidas animais tradicionais. Por exemplo: se dá vontade de comer um mousse, não fique tentando achar um substituto exato para os ovos. Você vai ter que pensar em outros ingredientes. Castanhas dão excelentes cremes e “queijos”. Paçoquinha é um doce dos deuses e originalmente vegetal. Mandioca e grão de bico são mágicos: existem vários preparados de “queijos” com essa raiz, e dá pra fazer até mousse a partir da água do cozimento da leguminosa, a aquafaba! De soja, eu só como tofu — que AMO. Uma dieta vegetariana não é nem deve ser sinônimo de soja. Existem muitas possibilidades. Com o tempo, seu paladar vai mudar e você vai começar a se deliciar com coisas maravilhosas que você desconhecia, porque antes eram muito sutis para um paladar viciado em carnes e laticínios. E lembre-se: Feijões são o seu melhor amigo. As leguminosas (feijão, ervilha, grão de bico, lentilha etc) são ricas em proteínas. Aprendi a comer muitas outras coisas. Não gosto de dizer que sou vegana, porque não sou perfeita, e o mundo é construído em cima da exploração animal. Eu digo que não como “produtos” animais. E quando me perguntam “você pode comer [alguma coisa animal]?” eu digo “claro que posso, apenas não quero”.
Como surgiu a ideia de criar o site e a Casa Herbívora? 
Fiz uma viagem para os Estados Unidos logo depois que parei de comer “produtos” de origem animal. Na California e Oregon, para onde fui, tem um monte de comidas, mercados e restaurantes veganos, eu fiquei encantada. E tive conversas ótimas com um amigo australiano sobre exploração animal. Voltei e fiz um zine chamado Herbívora contando da viagem, dos restaurantes, das conversas. Depois, fiz a edição 2 do zine, que é sobre a ligação entre veganismo e proteção animal. No ano passado, comecei a fazer uma horta em casa e esse ano resolvi escrever sobre tudo isso: comida, plantas, bichos. Herbívora virou um blog e um canal no YouTube. Sobre a Casa Herbívora, estou começando a promover eventos sobre horta e culinária. Tivemos uma oficina de como fazer uma horta-em-qualquer-lugar e uma tarde de tacos veganos. O objetivo é mostrar para as pessoas como a comida vegana pode ser boa e criativa. E no caso da oficina, ajudar quem tem vontade de plantar e não sabe começar. Eu tinha muitas dúvidas, e só comecei minha horta depois que fiz um curso. Quero compartilhar experiências. E o objetivo de base de tudo que faço é arrecadar dinheiro para a causa animal. Tem muito bicho sem dono e sem tratamento. Eu ajudo financeiramente ONGs e protetoras que fazem campanhas de castração, resgates e promovem adoções. Toda doação é bem vinda, esse é um trabalho que não acaba nunca. Aliás: quando pensar em ter um bichinho, por favor não compre. Adotar é massa!
Você vive em São Paulo com uma qualidade de vida do interior: mora em um pequeno sobrado, tem gatos, cachorro, horta no quintal… para muitos, esse modo de vida parece impossível de conciliar com a vida nas grandes cidades. Como tem sido para você?
 Eu nunca amei morar em São Paulo, já fui embora duas vezes, vivia dizendo que queria ir embora de novo — e nunca ia. Faz três anos que me mudei para uma casa, e comecei a perceber que eu não precisava ir embora para ter o tipo de vida que eu queria: era só ter, aqui e agora! Tu só tem que procurar o lugar que te oferece a condição que você precisa. Para mim, era um pátio com sol. 🙂
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