Um Ano Sabático – A Arte Salva

“A saída é por dentro

A porta é o silêncio”**

Eu já estava em São Paulo há dois meses e comecei a sentir um comichão sabe?! Uma vooontade de viajar e ver algo novo, surpreendente… Mas teria que ser algo relativamente rápido e econômico porque eu começava “a me mexer” no sentido de buscar meu novo lugar no mundo, ou pelo menos aqui na terrinha. E agora pensava eu, o que eu vou fazer para viver? Ou melhor, como eu vou viver ou do quê? Que tipo de trabalho eu quero daqui pra frente? Volto para o mundo corporativo ou sigo carreira solo? Ou esqueço tudo isso e saio no mundo?

Com tantas questões caraminholando nos meus cachos, achei uma boa desculpa ou um motivo para… viajar! Eu vinha pensando em Inhotim. Já tinha ouvido falar bem (inclusive no blog da Consuelo) e em uma rápida pesquisa vi que se encaixava no meu orçamento. Seria bem simples e poderia ir sozinha se fosse o caso. Mas não foi. Minha irmã, Martha, gostou da ideia e com algumas milhas para gastar, não tivemos dúvidas: vamos pra lá uai…

Emitidas as passagens, só faltava o lugar pra ficar. Decidimos ficar em Brumadinho, cidade onde Inhotim está situado e assim evitaríamos o desnecessário bate volta de BH. E mais que isso, pelo puro deleite de ficar em uma autêntica e tranquila cidade do interior de Minas. Mais ar puro por favor. Pois então encontramos uma pousada bem mineirinha, daquelas simples, mas bem gostosa.

Pronto estava tudo resolvido! E não é que no meio disso tudo, recebo um e-mail importante, com uma recomendação para uma entrevista…??!! Fiquei surpresa e feliz. Primeiro, pelo fato de ser recomendada por alguém que prezo e respeito como pessoa, e profissionalmente… e que já foi meu chefe. Segundo, eu ainda não estava procurando emprego ou trabalho. Até aquele momento eu estava descobrindo, redescobrindo e explorando minhas motivações, habilidades, pontos positivos e negativos do ponto de vista profissional. Mas o fato de ser lembrada para um trabalho importante, acendeu um lampejo de esperança e certeza de que as coisas acontecem!  A entrevista, ou reunião, tinha que ser imediata e lá fui eu correndo às vésperas da minha viagem para essa conversa que definiria os próximos passos da minha vida (e detalhe, na volta de Inhotim, eu já seguiria para o Atacama!).

Como minha irmã gosta de me lembrar, reputação, é tudo. Com experiência de 23 anos na área de marketing, sendo que 85% desse tempo foi trabalhando em empresas de moda e varejo – sempre sujeitas às oscilações do mercado e das questões familiares versus empresariais, sob constante pressão – quem reconhece o valor de um profissional com esse perfil, decide rápido. Três horas depois eu saí da entrevista praticamente empregada. Digo praticamente porque eu pedi um tempo para pensar. Fui pega de surpresa e embora a conversa tenha sido ótima, a proposta tentadora, eu ainda não estava pronta ou com a certeza de que era aquilo que eu queria. E os planos que eu vinha fazendo, como ficariam se eu dissesse sim?

Se eu já tinha caraminholas na cabeça agora então elas faziam volume. Queria conversar, falar a respeito, pedir opiniões… talvez na verdade validar minha decisão. Mas no fundo eu sabia que essa decisão só eu poderia tomar. Não dava para dividir com ninguém. No dia seguinte segui rumo a Inhotim.

Chegamos na tarde de uma linda quinta-feira de Sol na pousada Dona Carmita, em Brumadinho. Desfrutamos de uma deliciosa e farta comida caseira, por um valor que, eu, como paulistana, tenho até vergonha de falar e que só confirmou o que eu já sei mas às vezes preciso ser lembrada: simplicidade é tudo.

Uma palavra para definir a logística de viagem para Inhotim é descomplicada! Não tem segredo. O site de Inhotim é bom, completo, atualizado e tem várias dicas. Quem gosta de dirigir e tem tempo, o ideal é fazer uma trip on the road – passando pelas cidadezinhas mineiras até Inhotim. E se quiser esticar para o agito de uma cidade grande, BH está a apenas 50Km. Como fomos em três pessoas, e nenhum de nós queria ficar com a responsabilidade de dirigir, utilizamos milhas até BH, e de lá, investimos um pouco mais e contratamos um carro já com motorista (indicação da própria pousada). Foi tudo de bom. Além de ajudar a gerar a economia local, tem o lado divertido de conversar com alguém que mora na região e assim a oportunidade de uma boa prosa.

Comprei os tickets para ingresso no parque ainda em São Paulo, pelo site e para dois dias. Isso evita possíveis filas, especialmente nos finais de semana. Sim, porque o parque tem grande visitação e lota, porém, como é bem grande então dificilmente você vai se deparar com filas ou muita gente para ver uma obra ou uma galeria.

Se você ainda não conhece essa joia verde amarelo branco e azul anil, pode colocar na lista. Inhotim é Orgulho Nacional. Eu pensei que dois dias seriam suficientes para conhecer e me enganei. Assim… dá para conhecer em um dia, mas certamente vai faltar tempo para conhecer alguma galeria, ou você vai desejar ter ficado mais tempo, ou você vai ter que correr para conhecer tudo. Para fazer a viagem no ritmo que fizemos – de parar para fotografar, ver, curtir, conversar sobre as obras de arte, apreciar a natureza, parar para um café e almoçar com calma, são necessários 3 dias. Eu, ficaria lá uma semana tranquilamente.

Embora o site de Inhotim seja muito completo e mostre as fotos das obras, das instalações, assim como o currículo dos artistas, evitei tirar fotos das obras e das galerias, não só porque não é permitido em muitas delas, como também para evitar o tal spoiler. Tirei foto do que gostei muito. Inhotim é para ser visitado, vivenciado. É uma experiência para vida. Não é necessário ser entendido ou apaixonado por arte, ou rato de museu e galerias… O importante é estar aberto para o novo e inusitado.

Notas do caderninho:

Anote o site de Inhotim www.inhotim.org.br/

Vai por mim, hospede-se em Brumadinho ou o mais próximo possível de Inhotim. Assim você já entra no clima e ganha tempo para curtir o parque. No site de Inhotim apareciam várias opções de hospedagem… mudaram as coisas e agora você só encontra as opções “5 estrelas” e agências que organizam tours. Mas nada que o Google não resolva. Garanto, é muito simples organizar sua própria viagem (ah, e dentro de Inhotim está sendo construído um hotel bacanérrimo… desejo!).

Se você vai de carro é só chegar e em Brumadinho todo mundo sabe informar onde fica Inhotim. Se você vai de avião ou ônibus até BH, alugue um carro ou contrate um carro com motorista (um táxi…). A segunda opção, mais cara, é para quem gosta de almoçar e/ou jantar acompanhado de um vinho ou uma cervejinha com a autêntica cachacinha mineira. Eu vou nessa, até porque as estradas mineiras, me perdoem os mineiros, deixam muito a desejar.

Compre os ingressos ao parque pelo site.

Chegue cedo. Confira os horários e as regras do parque no site.

Confira também no site as obras em manutenção e as novidades.

Você tem fome de quê? Inhotim oferece boas opções de restaurantes lanchonetes e até um bar. Me parece que tem para todos os bolsos. Está tudo no site. Mas você também pode levar um lanchinho e fazer seu pit stop em um dos vários pontos lindos, charmosos, tranquilos que o parque oferece para relaxar. Dá até para tirar uma soneca. E leve um saquinho para colocar o seu lixo até a lixeira mais próxima.

Nem só de arte vive Inhotim. O paisagismo é uma atração a parte e você pode fazer uma visita mediada panorâmica ou de temática ambiental. Anotado para minha próxima visita.

Na dúvida, pergunte. Os monitores são simpáticos, educados, e sabem explicar no mínimo o básico de cada obra – artista, nome e o conceito. Aplausos para Inhotim! 

Você estará em um parque cercado de natureza, então #ficaadica:

– leve um repelente na bolsa ou compre lá na lojinha de Inhotim uma pulseirinha daquelas para afastar insetos (eu sou um imã para os pernilongos e garanto, funciona!!!).

– protetor solar na bolsa e/ou um chapéu. Em dias quentes ou de Sol, você vai agradecer tê-los na bolsa.

– tenha com você uma garrafa de água para se hidratar.

– vá de tênis e roupas confortáveis

Para quem tem pouco tempo, ou não quer caminhar muito, a opção é comprar o ticket para os carrinhos (semelhantes aos campos de golfe e com motorista) para ir nas instalações mais distantes. Mas nós, e o parque recomenda, quisemos fazer tudo a pé, o que acabou nos “atrasando” um pouco e por isso deixamos de visitar duas galerias importantes. Pensei logo… Oh céus! Terei que voltar!  No fim, por conta desse atraso, acabamos indo parar “ao acaso” na capela de Inhotim e ficamos. Acontecia uma cerimônia muito bacana: uma “reza” unindo cristianismo e candomblé. Oração, dança, canto, música e tambores. Sincretismo puro. E ainda recebemos a benção do padre que passava com a bandeira. Muita emoção!!!! Não dei conta de fotografar ou filmar. Parei tudo.

Depois de uma noite quando literalmente “caiu o mundo” de tanto chover, voltamos para São Paulo num domingo cinza e friozinho. Exaustos e felizes. Eu, voltava sem caraminholas, inspirada, entusiasmada e cheia de ideias, na certeza que estava no caminho certo e feliz com minhas escolhas. Tinha afinal tomado minha decisão.

notas finais

*inspiração, “A Arte Salva”, inspiração do trabalho do artista Eduardo Srur, http://barogaleria.com/exhibition/teste/)

**citação de Rosane Queiroz para Vida Simples