Um ano sabático – Um pontinho azul

Atacama, um lugar especial na bola azul, Parte I

Se existe um lugar que prova a força da natureza, é o Atacama. Se existe um lugar que a gente pode pensar na Terra da cor azul, é no Atacama.

De um azul que você nunca mais vai esquecer, o Atacama é hoje a prova de que o homem vence obstáculos. Considerado o maior (e mais alto) deserto do mundo, com apenas 1% de umidade ao ano, o Deserto do Atacama é hoje um dos principais destinos de turistas do mundo todo – de mochileiros, aventureiros, aos hóspedes mais sofisticados e exigentes.

Quem leu o post sobre Inhotim sabe que eu fui para aquela beleza de lugar com uma decisão difícil para ser tomada. Assim, quando eu cheguei de Inhotim, só tive tempo de fazer uma ligação: a de retornar com a minha decisão… que foi dizer não. Depois disso fiz os últimos ajustes na mala e embarquei para Santiago do Chile. Foi bom. Não tive tempo de pensar ou sentir algum arrependimento momentâneo.

Antes de seguir para o Deserto fiz uma parada na casa de uma amiga, a Adriana, em Santiago. Ela foi muito generosa. Foi me buscar no aeroporto, me recebeu com mimos (e pisco sour!) e tornou minha ida para o aeroporto na manhã seguinte, e bem cedo, mais agradável. Era comecinho de outubro e fazia frio. Mas aquela sensação boa de “estou viajando de novo” tomou conta de mim. Não me incomodei com o horário e nem com o frio. O motorista ouvia música clássica. Talvez fosse Handel?! Só lembro que aquela música aqueceu o frio na minha barriga. Eu estava ansiosa. Lá estava eu, sozinha de novo, e agora indo para o Atacama! Quando ele deu a partida no carro, uma ave linda, branca e longa voou paralela a nós. Foi uma cena de filme e tomei aquilo como um bom sinal. Novos voos estavam por vir.

Durante o voo para Calama eu estava inquieta. Já tinha ouvido falar bastante sobre o Atacama e já tinha visto fotos. Mas como seria estar no Atacama? Apesar de sonolenta não conseguia tirar os olhos da janela e ficar olhando toda aquela imensidão de terra, dos Andes… a Terra realmente me pareceu redonda.

Não espere nada do aeroporto de Calama. Nem de Calama. Parece que você chegou numa terra de ninguém. Mas congele essa imagem: provavelmente será o primeiro impacto que o deserto irá causar. Uma vastidão “de nada” onde predomina o azul do céu  (se o tempo estiver bom), a terra do deserto e vários contaneirs que são usados (ou imagino que sejam) pelas empresas que atuam na extração de minerais ou mesmo como moradias.

Eu estava em algum lugar na Itália quando decidi ir para o Chile por conta de milhagens que estavam para expirar. Quando cheguei em São Paulo, decidi que meu destino seria o Atacama, e por conta da antecedência (3 meses antes) consegui uma boa promoção e reservei o Altiplânico. O hotel é bem legal. Meu quarto basicamente era um loft… eu poderia passar um bom tempo lá tranquilamente.

Como eu tinha tempo até começar meu “tour” pelo deserto fui até “vila” de San Pedro. Na rua principal, a Caracoles, acontece um footing, é ali que se concentra gente do mundo inteiro e você irá ouvir muitos e diferentes idiomas. Esse é certamente o ponto mais “barulhento” da cidade. Depois, o silêncio predomina.

 Dia 1 – Vale da lua e Vale da morte

Esse é o primeiro passeio ou o mais recomendado para quem está chegando, e acontece às 16h00. A impressionante paisagem do Vale da lua, as “esculturas” naturais e as cordilheiras de sal, formam um cenário de filme. Na verdade, estar no Atacama é como estar em vários cenários; como o pôr-do-sol no Vale da Morte, onde as protagonistas são as montanhas, e não o Sol, este, apenas “lava” as montanhas com sua luz dourada.

Dia 2 – Lagunas Cejar e happy hour na Laguna Tebinquinche

Outro passeio que começa às 4 da tarde deixando assim a manhã livre para fazer nada, curtir o hotel ou fazer um dos passeios mais centrais ou próximos à “vila”. Eu optei em não fazer nada, tomei um café da manhã demorado e depois fui tomar Sol e ler na piscina. La dolce far niente também no Atacama.

A Laguna Cejar é uma lagoa de sal, e por isso, associada ao mar Morto, ou seja, você pode se banhar lá e… flutuar! Enfrentei a preguiça de mudar de look (vá de biquíni ou maiô por baixo), passei um pouco de frio e… água! A sensação de não afundar é realmente divertida, mas nada se compara à sensação (e contemplação) de ter mergulhado em um “olho azul” no meio do deserto, e vislumbrar aquela vastidão do Atacama. A vida é boa.

Depois da Cejar, fomos ver o pôr-do-sol na Laguna Tebinquinche. Vários carros, de turismo ou não, estacionam na beira da lagoa com apetrechos para o momento mais esperado do dia: um happy hour com aperitivos, pisco sour ou vinho, em um lugar mágico, com um  visual maravilhoso. Enquanto isso, o Sol começa a despedir e vai deixando os Andes, as cordilheiras e os vulcões dourados… Uma das experiências mais lindas que vivi.

Dia 3 – Lagunas Altiplânicas

A partir do 3o dia acaba a moleza dos passeios vespertinos. Saímos às 7 da manhã para conhecer a Reserva Nacional dos Flamingos (e outras aves menores) e o Salar do Atacama. Para quem gosta de observar bichos é uma delícia. Mas não se deixe levar só por isso. A paisagem ao redor é linda e fique atenta/o aos espelhos naturais que as lagunas proporcionam. É um lugar para contemplação.

Saí toda feliz desse passeio mas o melhor estava por vir… As Lagunas Altiplânicas. Algumas horas depois de sacolejar na van chegamos em um lugar que parecia de mentirinha: lhamas, vicunhas, guanacos e outros bichos passeavam em meio a uma espetacular cadeia de montanhas e vulcões, ainda cobertos de neve, contrastando com aquele azul do céu, das lagunas e do deserto. Nem conseguia acreditar que eu estava lá. As Altiplânicas estão a mais de 3 mil metros e foram meu primeiro desafio de superação da altitude. Lá em cima ventava bastante e fazia muito frio, a sensação térmica era de -3o. Vale cada minuto que você levou pra chegar lá.

O próximo post, a parte II dessa viagem: Geisers del Tatio, Salar de Tara, Vale do Arco Íris e  “the end”.