Moda Consciente no Brasil

Inspirada em modelos europeus de “bibliotecas” de roupas — como a Lena e a Kleiderei (saiba mais nessa matéria do site Modefica), a Roupateca foi inaugurada recentemente em São Paulo e vai funcionar na House of Bubbles, nova casa do empresário Wolf Menke. 

Wolf é o nome por trás de um conjunto de casas em Pinheiros que trazem propostas relacionadas à economia colaborativa: estações de trabalho compartilhadas na House of Work, cozinha na House of Food, aprendizado na House of Learning e agora uma lavanderia na House of Bubbles (veja o vídeo da inauguração aqui).

“Uma roupateca é um guarda-roupa compartilhado entre pessoas que querem repensar a forma como consomem e vestem moda”. Sob essa premissa, Menke se uniu às consultoras de estilo Daniela Ribeiro e Nathalia Roberto e à estilista Ana Clara Elias para compor o acervo. O serviço funciona através de uma assinatura mensal que permite retirar um número limitado de peças entre roupas, acessórios, bolsas e sapatos. A cada devolução, novas peças podem ser retiradas novamente na mesma quantidade.

Daniela e Nathalia, que também estiveram à frente do bazar “Entre Nós” — sobre o qual já escrevi aqui no Achados (releia), acreditam ter agora chegado a um modelo de negócio mais sustentável, uma vez que incentiva a reutilização de peças de maneira compartilhada sem envolver compra e venda.

Além da Roupateca, a House of Bubbles abriga iniciativas bem legais relacionadas ao consumo consciente, como a loja pop-up da premiada marca de sapatos Insecta Shoes, que fica até dia 24 de dezembro, e as oficinas coordenadas pelo time Modefica (acompanhe as novidades aqui). 

A Insecta Shoes merece um post à parte: os sapatos estilosos mostram que uma marca vegana e sustentável não somente é viável, como pode oferecer peças que se tornam objeto de desejo mesmo entre as fashionistas tradicionais. Os sapatos e sandálias são feitos a partir de tecidos vintage garimpados e garrafas de plástico recicladas. Quem não puder ir à loja pop-up, dá para comprar online no site da marca.

Como fazer sapatos veganos e ecológicos / How to make sustainable vegan shoes from Insecta Shoes on Vimeo.

A Roupateca é a segunda iniciativa conhecida que traz a ideia de guarda-roupa compartilhado para o Brasil. A primeira é a Lucid Bag, que foi criada há um ano pela jornalista especializada em moda e cultura Luciana Nunes.

A indústria fashion é a segunda mais poluente no mundo, perde somente para a do petróleo, e não dá mais para desconsiderar as consequências. O movimento slowfashion chegou para mostrar que suas escolhas podem fazer diferença no mundo e que precisamos repensar nosso consumo priorizando necessidade à impulso, justiça ao preço. E assim o consumismo cai, a generosidade aumenta e a natureza agradece“, comenta Luciana.

Segundo Luciana, a maior parte das entregas em São Paulo é feita pessoalmente por ela usando bicicleta, transporte público ou caminhando. A Lucid Bag também envia as peças para outras cidades pelos Correios.

Nossa missão é incentivar as pessoas a se ajudarem e colocarem de volta no mercado peças lindas que ficam paradas em nosso guarda-roupas por falta de ocasião de uso, aumentar o ciclo de vida de roupas e acessórios de moda, indicar novas marcas e designers brasileiros que prezam pela qualidade e sustentabilidade além de incentivar as pessoas a pensarem melhor sobre suas novas compras: história de vida e procedência do produto, diferenciais das marcas ou designers; técnica de produção e matéria prima“. Saiba como funciona a Lucid Bag aqui.

Nesse sentido, a dupla de consultoras Cristina Zanetti e Fernanda Resende, da Oficina de Estilo, também têm feito um significativo trabalho. Há algum tempo, o lema da empresa passou a ser “substitua consumo por autoestima“. Desde 2003, o foco da consultoria é exercitar uma nova relação com o vestir e com o consumo de moda. 

O conteúdo da Oficina no blog e nas redes sociais é ótimo, muito informativo e consistente. Na hashtag #roteiroODE no Instagram, por exemplo, há dicas de pequenas marcas e designers que priorizam consumo local e consciente, além de uma cadeia de produção ética, como é o caso da estilista Flávia Aranha que tem um trabalho autoral e cuidadoso com tecidos de fibras naturais, como linho — que eu adoro.

Por fim, vale mencionar uma iniciativa que procura unir à tecnologia a este novo momento de consumo: o app Roupa Livre, uma espécie de Tinder para troca de roupas:

Ainda sobre o tema, que felizmente rende um montão (e que ainda vou retomar muitas vezes em posts futuros), vale a leitura do artigo “Consumir menos não é uma missão simples para as mulheres“, de Anna Haddad para o Modefica.

2 comentários COMENTE TAMBÉM

Adorei o artigo, muito bem elaborado.

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