No caminho inverso: aLagarta, da tela para o papel

Depois de cinco anos no formato digital, aLagarta vai se tornar uma revista impressa. Convidei a criadora e editora-chefe da revista, Carol Lancelloti, para contar ao Achados um pouco sobre a sua história, que se confunde com a história d’aLagarta, e sobre este processo de transformação da revista.

Com a palavra, Carol:

“Sempre gostei do impresso. Havia algo sobre ter um universo particular e encantador em mãos, que se abria com o toque dos dedos, pra levar consigo aonde for. A textura, as cores, a realidade de segurar aquilo que se enxerga. Desde criança, montava meus próprios livros, todos feitos à mão, e colecionava revistas e mais revistas sobre todos os assuntos pelos quais eu era apaixonada, de Spice Girls à mangá. Mas minha paixão por revistas veio mesmo por volta de 2007, na faculdade de moda: consegui meu primeiro estágio numa empresa de pesquisa de tendências e consultoria, e lembro de entrar na HB Revistas aqui no Rio e me sentir na Disney em meio a todas aquelas publicações raras! E quando meus chefes voltavam de viagem com malas e malas de revistas importadas e a minha função era destrinchar todo aquele conteúdo maravilhoso, pensava: “isso não pode ser trabalho. É divertido demais!”. Ainda sem muitas referências visuais na internet (o Pinterest e o Instagram ainda não haviam sido criados), naquela época, ter uma revista diferente em mãos significava se abrir para o mundo, uma viagem sem volta. E foi, pelo menos pra mim.

Durante esse tempo descobri uma das revistas que inspirou aLagarta, a inglesa Lula — na época, comandada pela ídola Leith Clark (hoje quem está à frente é a também incrível Violet Book). Foi paixão à primeira leitura. Eu me perguntava por que não tínhamos uma publicação semelhante no Brasil. Ficava horas procurando em sites como e-Bay as edições anteriores! Como a Lula não é vendida aqui, toda vez que lançava uma nova edição, eu corria pra comprar em algum site gringo, enviava pra uma tia que mora nos Estados Unidos para que, tempos depois, ela pudesse me enviar pelos Correios. Todo esse processo não saía por menos de 50 reais, mas eu não me importava. Meu coração se desmanchava a cada página, porque ali, eu me encontrei como criativa. Eu me lembro daquela sensação inocente do encantamento, como sentimos na infância, e do ingênuo pensamento que então me ocorreu: é isso o que eu quero ‘ser quando crescer’; é isso o que eu quero fazer da vida.

E não era somente uma questão de criar coisas lindas e que inspirassem as pessoas, que as impulsionassem a olhar por outro ângulo, a sair da mesmice do mercado editorial brasileiro da época, e até do conteúdo postado nos blogs de moda. Era também sobre ser livre. Quando lancei a primeira edição d’aLagarta, eu já trabalhava no meu próprio estúdio de fotografia, o que me fez perceber desde muito cedo o quanto era difícil entrar na “panela” que era o mercado criativo no Rio de Janeiro. Mas a internet estava lá, escancarando as portas das possibilidades! Sem ter capital inicial para uma publicação impressa, o formato online foi a alternativa ideal. Juntei amigos, criativos como eu, cheios de vontade de transformar, de mostrar seu trabalho, abrir o coração. E  em julho de 2010, a primeira edição d’aLagarta foi ao ar. Na edição seguinte, o Leo Pope (hoje diretor criativo e sócio da revista comigo) se ofereceu para entrar no time – e desde então, não paramos de crescer. E assim, se firmou em nossa energia a força do coletivo, que nos move edição após edição. 

No começo, a gente não sabia que seria a primeira e-mag para mulheres com uma proposta diferente, com entrevistas surpreendentes e conteúdo inovador e fresco sobre moda, arte, música e design. Olhando pra trás e vendo todos os assuntos em pauta de hoje é que entendemos o caminho percorrido: ainda em 2010, falamos de sustentabilidade, slow fashion e fizemos um editorial inteiro com peças de acervo (o primeiro de muitos). Divulgamos novos artistas, usamos meninas “reais” como modelos e defendemos com unhas e dentes nosso formato, que ainda era muito incompreendido. Mas nada desanimava! Hoje ficou bem claro para a gente que foi essa vontade genuína de criar com amor e por amor que manteve o projeto no ar por 5 anos. Sabe, nunca foi difícil encontrar colaboradores que topassem trabalhar no amor, mesmo na gringa. As pessoas se abriram pra nossa proposta de corpo e alma porque acreditavam na gente, na nossa dedicação e na mudança que a gente sempre propôs. E como costumamos brincar internamente, tudo que é feito pra aLagarta, dá certo – mesmo sendo sempre com muita emoção! Afinal, não é nada fácil a jornada independente, não é mesmo? 

E então, chegamos até aqui. Perto de completar 6 anos de vida, aLagarta se prepara para o que temos chamado de Novo Ciclo. Finalmente, migraremos para o impresso. Através de uma campanha de crowdfunding no Catarse, pretendemos estampar no papel aquilo que nos faz sorrir — aLagarta vai manter sua proposta leve, porque todo mundo precisa de um sopro de ar fresco. 

aLagarta impressa: Catarse from aLagarta on Vimeo.

Finalmente, vamos realizar nosso maior sonho. E além de remunerar nossa equipe fixa de forma igualitária e completamente transparente, vamos também direcionar parte dos lucros das vendas para um projeto lindo, o ViDançar.”

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